sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

🎄🎄🎅🌟🌟 Boas Festas 🎄🎄⛄


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Escritor do mês | dezembro

Ana Luísa Amaral
(1956/)


Ana Luísa Ribeiro Barata do Amaral nasceu em Lisboa a 5 de abril de 1956.

Com nove anos de idade deixou Sintra e foi viver para Leça da Palmeira, distrito do Porto.

A sua infância foi marcada pela leitura de obras de autores anglo-saxónicos, como Walter Scott (1771-1832), Washington Irving (1783-1859), Louisa Alcott (1832-1888) e Enid Blyton (1897-1968).

Entre os dez e os dezasseis anos de idade frequentou um colégio de freiras espanholas e, mais tarde, estudou Germânicas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde veio a lecionar.

Em 1985 realizou provas de aptidão pedagógica e capacidade científica na especialidade de Literatura Inglesa. Novamente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 1996, defendeu provas de doutoramento na especialidade de Literatura Norte-Americana, tendo sido aprovada com distinção e louvor. A tese que apresentou intitula-se Emily Dickinson: uma poética de excesso.

Durante a década de 80 deslocou-se pontualmente a Inglaterra. Viveu nos Estados Unidos da América entre 1991 e 1992.

A sua obra, povoada de referências a viagens e lugares, está representada em várias antologias, nacionais e estrangeiras, e traduzida em diversas línguas.

É autora dos livros de poesia: Minha Senhora de Quê (1990), Coisas de Partir (1993), Epopeias (1994), E Muitos Os Caminhos (1995), Às Vezes o Paraíso (1998), Imagens (2000), Imagias (2002), A Arte de ser Tigre (2003), A Génese do Amor (2005), Poesia Reunida 1990-2005 (2005), Entre Dois Rios e Outras Noites (2007), Se Fosse um Intervalo (2009), Inversos, Poesia 1990-2010 (2010), Vozes (2011), Escuro (2014), E Todavia (2015), Em suma, Poesia 1990-2015 (2016), What's in a name, (2017).

Escreveu os livros infantis Gaspar, o Dedo Diferente e Outras Histórias (1.ª edição de 1999, edição revista de 2011), A História da Aranha Leopoldina (2000), A Relíquia (2008), Auto de Mofina Mendes a partir da peça de Gil Vicente (2008), A Tempestade (2011, que integra o plano nacional de leitura), Como Tu (2012), acompanhado de um CD com música de António Pinho Vargas, piano de Álvaro Teixeira Lopes e vozes de Pedro Lamares, Rute Pimenta e Ana Luísa Amaral; integra o plano nacional de leitura) e Lenga-lenga de Lena, a Hiena (2016).

Publicou uma peça de teatro - Próspero Morreu (2011) e uma obra de ficção - Ara, Sextante (2013).

Fez traduções de poemas de Xanana Gusmão, Eunice de Souza, John Updike, Emily Dickinson, de sonetos de Shakespeare e da obra Carol de Patricia Highsmith.

Ana Luísa Amaral é também coautora do Dicionário de Crítica Feminista (2005) e coordenadora da edição anotada de Novas Cartas Portuguesas (2010).

Em 2007 foi-lhe atribuído o Prémio Literário Casino da Póvoa/Correntes d'Escritas, com o livro A Génese do Amor e foi galardoada em Itália com o Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi. Em 2008, o seu livro Entre Dois Rios e Outras Noites alcançou o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. Venceu ainda o Prémio de Poesia António Gedeão com a obra Vozes (em 2010), o Prémio Narrativa PEN CLUB com Ara (2014) e a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Matosinhos, por serviços prestados à literatura (2015). Foi finalista do Prémio Portugal Telecom com A génese do Amor (2008) e Vozes (2014) e proposta para o Prémio Rainha Sofia em 2013. Em 2018 o seu livro Arder a palavra e outros incêndios foi um dos vencedores do Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários.

Ana Luísa Amaral é membro do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa.

Fonte: (Universidade do Porto Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2017)



LUGARES COMUNS  














Entrei em Londres
num café manhoso (não é só entre nós
que há cafés manhosos, os ingleses também,
e eles até tiveram mais coisas, agora
é só a Escócia e parte da Irlanda e aquelas
ilhotazitas, mais adiante)
Entrei em Londres
num café manhoso, pior ainda que um nosso bar
de praia (isto é só para quem não sabe
fazer uma pequena ideia do que eles por lá têm), era
mesmo muito manhoso,
não é que fosse mal intencionado, era manhoso
na nossa gíria, muito cheio de tapumes e de cozinha
suja. Muito rasca.
 
Claro que os meus preconceitos todos
de mulher me vieram ao de cima, porque o café
só tinha homens a comer bacon e ovos e tomate
(se fosse em Portugal era sandes de queijo),
mas pensei: Estou em Londres, estou
sozinha, quero lá saber dos homens, os ingleses
até nem se metem como os nossos,
e por aí fora...
 
E lá entrei no café manhoso, de árvore
de plástico ao canto.
Foi só depois de entrar que vi uma mulher
sentada a ler uma coisa qualquer. E senti-me
mais forte, não sei porquê, mas senti-me mais forte.
Era uma tribo de vinte e três homens e ela sozinha e
depois eu
 
Lá pedi o café, que não era nada mau
para café manhoso como aquele e o homem
que me serviu disse: There you are, love.
Apeteceu-me responder: I’m not your bloody love ou
Go to hell ou qualquer coisa assim, mas depois
pensei: Já lhes está tão entranhado
nas culturas e a intenção não era má, e também
vou-me embora daqui a pouco, tenho avião
quero lá saber
 
E paguei o café, que não era nada mau,
e fiquei um bocado assim a olhar à minha volta
a ver a tribo toda a comer ovos e presunto
e depois vi as horas e pensei que o táxi
estava a chegar e eu tinha que sair.
E quando me ia levantar, a mulher sorriu
Como quem diz: That’s it
 
e olhou assim à sua volta para o presunto
e os ovos e os homens todos a comer
e eu senti-me mais forte, não sei porquê,
mas senti-me mais forte
e pensei que afinal não interessa Londres ou nós,
que em toda a parte
as mesmas coisas são
 
Ana Luísa Amaral

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O Leituras sugere...







...para dezembro



Feliz Natal Lobo Mau
Clara Cunha


O Lobo Mau foi procurar o Capuchinho Vermelho, mas encontrou o Pai Natal. Será que merece um presente?


Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para Educação Pré-Escolar, destinado a leitura em voz alta.

Um poema...

TESTAMENTO

Vou partir de avião
E o medo das alturas misturado comigo 
Faz-me tomar calmantes
E ter sonhos confusos

Se eu morrer
Quero que a minha filha não se esqueça de mim
Que alguém lhe cante mesmo com voz desafinada
E que lhe ofereçam fantasia
Mais que um horário certo
Ou uma cama bem feita

Dêem-lhe amor e ver
Dentro das coisas
Sonhar com sóis azuis e céus brilhantes
Em vez de lhe ensinarem contas de somar
E a descascar batatas

Preparem minha filha para a vida
Se eu morrer de avião
E ficar despegada do meu corpo
E for átomo livre lá no céu

Que se lembre de mim
A minha filha
E mais tarde que diga à sua filha
Que eu voei lá no céu
E fui contentamento deslumbrado
Ao ver na sua casa as contas de somar erradas
E as batatas no saco esquecidas
E íntegras.

Ana Luísa Amaral, Minha Senhora de Quê (in Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI)


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Escritor do mês | novembro

Raul Brandão
(1867-1930)


Raul Germano Brandão nasceu a 12 de março de 1867 na Foz do Douro, localidade que marcou de forma indelével a sua vida e obra, pelo mar e pelos seus homens. Era filho de pequenos proprietários.
A infância e a adolescência foram passadas no Porto, onde completou os primeiros estudos, nomeadamente no Colégio São Carlos. 
Seguidamente, frequentou a Academia Politécnica do Porto, entrando então em contacto com outros jovens aspirantes a escritores, entre os quais se contavam os amigos da adolescência, António Nobre e Justino de Montalvão.
Em 1888 ingressou na Escola do Exército, em Lisboa.

Em 1889 esteve na formação do grupo "Os Insubmissos" e da revista com o mesmo nome, que coordenou.

Em 1890 estreou-se como escritor com a coletânea de contos naturalistas "Impressões e Paisagens". Logo em seguida, participou ativamente em vários movimentos de renovação literária. Com Júlio Brandão e D. João de Castro dirigiu a "Revista de Hoje" (1895) e encetou uma notável carreira jornalística no "Correio da Manhã".

Em 1896, depois de concluído o estágio de 10 meses na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, foi colocado em Guimarães, como Alferes no Regimento de Infantaria nº 20. 

Mais tarde, foi transferido para Lisboa. Nesta fase, o jovem escritor dedicou-se a reflexões metafísicas, colaborou na composição do folheto "Nefelibatas" (1893) e aproveitou os escritos no jornal "Correio da Manhã" para publicar, em 1896, o livro "História de um Palhaço – Vida e Diário de K. Maurício", reorganizado em 1926 com o título "A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore".

Em março de 1897 casou com Maria Angelina, com quem viveu um ano em Guimarães. Seguidamente, transferiu-se para o Porto, voltando ao lugar onde nascera, a Foz do Douro.

A escrita continuou a ocupar lugar importante na sua vida. Em parceria com Júlio Brandão escreveu a peça "Noite de Natal", representada no Teatro D. Maria, em 1899.
Em 1901 pediu nova transferência, desta vez para Lisboa. Na capital contactou com intelectuais e anarquistas e empenhou-se na área do Jornalismo.

Nesta fase, a sua existência dividia-se entre a escrita realizada na capital e a que produzia no recolhimento da sua Casa do Alto, em Nespereira, nas proximidades de Guimarães, a qual adquirira em 1903. Nesta habitação, não se dedicava apenas à escrita, mas também à administração da sua propriedade. Este contacto direto com o mundo rural despertou no escritor e no homem sentimentos de comiseração e de pesar relativamente às agruras que marcavam a condição das comunidades agrícolas.
A partir daí, o tema principal da sua obra literária passou a ser o problema de consciência perante os homens oprimidos e a análise de sentimentos contraditórios (a simpatia pelos explorados e o egoísmo de um pequeno burguês), presente pela primeira vez em "Os Pobres", no início do século XX (1902-1903).

Em 1911 pôs fim à carreira militar, reformando-se do exército no posto de Major, em 1912.

Com mais tempo para a escrita, começou a interessar-se pela História de Portugal. Compôs a obra "El-rei Junot", em 1912, e redigiu "A Conspiração de Gomes Freire", em 1914. Publicou "O Cerco do Porto" na revista "Renascença", em 1915, uma obra atribuída ao coronel Hugo Owen e Brandão, que este anotou e prefaciou.

Em 1917 deu à estampa a sua aclamada obra-prima, "Húmus", dedicada ao amigo Columbano, que conheceu no final de Oitocentos e que lhe pintou dois retratos.

A partir desses anos começou a passar os Invernos em Lisboa, cidade onde conviveu com os intelectuais do grupo da revista "Seara Nova" (1921), contando-se entre o grupo de fundadores deste movimento, juntamente com Jaime Cortesão, Raul Proença e Aquilino Ribeiro, entre outros.
Neste período, também se dedicou à dramaturgia. 

Raul Brandão pretendeu tornar públicos quatro livros de trabalho de teatro; no entanto, o projeto ficaria apenas pela publicação de um volume. Planeou, igualmente, escrever "A História Humilde do Povo Português", da qual os "Os Pescadores" constituiria o 1º volume, e ao qual se seguiriam "Os Lavradores", "Os Pastores", "Os Operários". Em 1924 realizou uma viagem aos Açores e à Madeira, que deveria fazer parte desse plano e da qual resultou a edição da obra "As Ilhas Desconhecidas", de 1926, considerada «um dos melhores livros de viagens de todos os tempos na literatura portuguesa».

Em colaboração com a esposa escreveu "Portugal Pequenino", uma narrativa para crianças, editada em 1930.

A morte interrompeu estes projetos. Raul Brandão viria a falecer em Lisboa, no dia 5 de dezembro de 1930, com 63 anos. Em 1931 foi publicado, postumamente, "O Pobre de Pedir".

Raul Brandão seguiu uma carreira militar. Mas foi, sobretudo, um grande jornalista (no "Correio da Manhã", "Revista de Hoje", "Revista de Portugal", chefe de redação dos jornais "O Dia" e "A República") e escritor, autor de uma extensa e diferenciada obra literária (ficção, teatro e livros de viagem), marcada pelas vertentes social, ética e religiosa e entrecruzada pelo patético e pelo trágico. Pertenceu ao grupo dos "Nefelibatas" e à "Geração de 90" do século XIX e foi influenciado não só pelas correntes do Realismo, do Naturalismo, mas também pelo Simbolismo e o pelo Decadentismo. Foi um homem imaginativo e talentoso, mas passivo e isolado, características que, no entender de muitos estudiosos da sua vida e obra, acabaram por fazer dele, muitas vezes, um incompreendido.

Fonte:  U. Porto - Antigos Estudantes Ilustres U. Porto: Raul Brandão

BIBLIOGRAFIA

1890 – Impressões e Paisagens

1896 – História d’um Palhaço (A Vida e o Diário de K. Maurício)

1901 – O Padre

1903 – A Farsa

1906 – Os Pobres

1912 – El-Rei Junot

1914 – A Conspiração de 1817

1915 – O Cerco do Porto – Pelo Coronel Owen (Prefácio e Notas)

1917 – Húmus

1919 – Memórias – vol. I

1923 – Teatro – “O Gebo e a Sombra”, “O Rei Imaginário” e “O Doido e a Morte”

– Os Pescadores

1925 – Memórias – vol. II

1926 – As Ilhas Desconhecidas

– A Morte do Palhaço e O Mistério da Árvore (2ª edição refundida de História d’um Palhaço)

1927 – Eu sou um Homem de Bem (monólogo teatral)

– Jesus Cristo em Lisboa (tragicomédia em colaboração com Teixeira de Pascoaes)

1929 – O Avejão – Episódio Dramático

1930 – Portugal Pequenino (em colaboração com Maria Angelina)

1931 – O Pobre de Pedir (edição póstuma)

1933 – Memórias – vol. III (edição póstuma)

1981 – A Noite de Natal (em colaboração com Júlio Brandão) – Leitura, introdução e notas por José Carlos Seabra Pereira

1984 – Os Operários – Fixação do texto, introdução e notas por Túlio Ramires Ferro

2000 – Húmus (1917; 1921; 1926) – Edição crítica de Maria João Reynaud



A VILA

15 de novembro

A vila petrifica-se, a vila abjeta cria o mesmo bolor. Mora aqui a insignificância e até à insignificância o tempo imprime carácter. (…)

Cabem aqui seres que fazem da vida um hábito e que conseguem olhar o céu com indiferença e a vida sem sobressalto, e esta mixórdia de ridículo e de figuras somíticas. (…)
Cabem aqui dentro as velhas cismáticas, atrás de interesses, de paixões ou de simples ninharias, dissolvendo-se no éter, e logo substituídas por outras velhas, com as mesmas ou outras plumas nos penantes, com os mesmos ou outros ridículos, fedorentas e maníacas; os homens a quem se foram apegando pela vida fora dedadas de mentira, prontos para a cova — e o Gabiru e o seu sonho. Cabe aqui o céu e as lambisgoias com as suas mesuras, a morte e a bisca de três. E cabe aqui também uma velha criada, que se não tira diante dos meus olhos. Obsidia-me. Carrega. Obedece. Serve as outras velhas todas. A Joana é uma velha estúpida.
 Serviu primeiro na vila, serviu depois na cidade. Serviu com uma saia rota, as mãos sujas de lavar a louça, uma camisa, os usos e seis mil réis de soldada. Lavou, esfregou, cheira mal. Serviu o tropel, a miséria, o riso, que caminha para a morte com um vestido de aparato e um chapéu de plumas na cabeça. Para contar fio a fio a sua história bastava dizer como as mãos se lhe foram deformando e criando ranhuras, nodosidades, côdeas, como as mãos se foram parecendo com a casca duma árvore. O frio gretou-lhas, a humidade entranhou-se, a lenha que rachou endureceu-lhas. Sempre a comparei à macieira do quintal: é inocente e útil e não ocupa lugar. A vida gasta-a, corroem-na as lágrimas, e ela está aqui tal qual como quando entrou para casa da D. Hermengarda. Faz rir e faz chorar. Já ninguém estranha — nem ela — que a Joana aguente, e a manhã a encontre de pé, a rachar a lenha, a acender o lume, a aquecer a água. Há seres criados de propósito para os serviços grosseiros. Por dentro a Joana é só ternura, por fora a Joana é denegrida. A mesma fealdade reveste as pedras. Reveste também as árvores.
 É uma velha alta e seca, com o peito raso. O hábito de carregar à cabeça endireitou-a como um espeque, o hábito das caminhadas espalmou-lhe os pés: a recoveira assenta sobre bases sólidas. Parece um homem com as orelhas despegadas do crânio e olhos inocentes de bicho. É destas criaturas que dão aos outros em troca da soldada o melhor do seu ser, que se apegam aos filhos alheios e choram sobre todas as desgraças. Ainda por cima dedicam-se, e quando as mandam embora, porque não têm serventia, põem-se a chorar nas escadas.

* * *
 Húmus, cap. 1



O Leituras sugere...





...para novembro


Pedro Alecrim
 António Mota


Este livro narra a vida de Pedro Alecrim que reparte os seus dias entre a escola, as brincadeiras com os amigos e o trabalho no campo para ajudar a família. Pedro gosta de andar na escola, embora se interrogue sobre a utilidade de algumas matérias e nem sempre aprecie o feitio de alguns professores. Os dias vão passando, com sonhos, alegrias e tristezas. O autor leva-nos à aldeia do menino cujo nome nos lembra o cheiro do campo, dando-nos a conhecer as suas rotinas e as dificuldades de quem tem de trabalhar no duro após as aulas e só à noite consegue fazer os deveres. A morte do pai alterará tudo e Pedro passa de jovem a homem.

Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças 1990.

Plano Nacional de Leitura

Livro recomendado para o 6º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada.

Um poema...

DE RAMO EM RAMO 

Não queiras transformar 
em nostalgia 
o que foi exaltação, 
em lixo o que foi cristal. 
A velhice, 
o primeiro sinal 
de doença da alma, 
às vezes contamina o corpo. 
Nenhum pássaro 
permite à morte dominar 
o azul do seu canto. 
Faz como eles: dança de ramo 
em ramo. 

Eugénio de Andrade, Ofício de Paciência

quinta-feira, 25 de outubro de 2018


Amadeo de Souza Cardoso
(1887/1918)
Centenário da morte


Amadeo de Souza Cardoso nasceu a 14 de novembro de 1887 em Manhufe, freguesia de Mancelos, no concelho de Amarante, no seio de uma família burguesa rural. Fez estudos liceais em Amarante e frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa em 1905, tentando seguir o curso de Arquitetura que interrompeu para partir para Paris, em 1906, com 19 anos, instalando-se, então, em Montparnasse.

Frequentou ateliers preparatórios para o concurso de admissão às Beaux-Arts parisienses, ainda, com destino a Arquitetura, vindo, no entanto, a dedicar--se exclusivamente à Pintura, tendo frequentado a Academia Viti do pintor espanhol Anglada Camarasa. Nesta primeira época realizou várias caricaturas e algumas pinturas marcadas por aspetos naturalistas e impressionistas.

Em 1910 fez uma estadia de alguns meses em Bruxelas e em 1911 expôs trabalhos no Salon des Indépendants, em Paris, havendo-se aproximado progressivamente das vanguardas e de artistas como Modigliani, Brancusi, Archipenko, Juan Gris, Robert e Sonia Delaunay.

Em 1912 publicou o álbum XX Dessins e expôs no Salon des Indépendants e no Salon d’Automne. Em 1913 tomou parte, com oito trabalhos, nos Estados Unidos da América, no Armory Show, aí restando algumas das obras expostas, hoje patentes ao público nos museus americanos. Nesse ano participou ainda no Herbstsalon da Galeria Der Sturm, em Berlim. Em 1914 encontrou-se em Barcelona com Gaudi, partiu para Madrid onde é surpreendido pela guerra. Regressou a Portugal, instalando-se em Manhufe e casou no Porto com Lucia Pecetto que conhecera em Paris, já em 1908.

Pintou com grande constância, refez algumas obras no seu atelier da Casa do Ribeiro, cultivou a amizade com Eduardo Viana, Almada Negreiros e os Delaunay (que então se instalaram em Vila do Conde). Em 1916 expôs no Porto 114 obras como título Abstracionismo que serão também expostas em Lisboa, num e noutro caso com novidade e algum escândalo.

Em 25 de outubro de 1918 Amadeo morreu prematuramente em Espinho, vítima da "pneumónica" que então grassava em Portugal.

De aprendiz de desenho a mestre do modernismo, Amadeo de Souza-Cardoso é considerado a primeira referência e a mais representativa da pintura moderna do século XX em Portugal. Não tão aclamado como Almada Negreiros ou José Malhoa, Amadeo de Souza-Cardoso é um dos rostos mais versáteis da pintura portuguesa. Com a sua obra a ganhar contornos mais vincados no início do século XX, foi inevitável a influência modernista que bebeu e que incluiu no seu trabalho.


Clown/Cavalo/Salamandra

Tristezas, Cabeça. Pintura de Amadeo de Souza-Cardoso

Canção popular e o pássaro do Brasil, 1916

Parto da viola
Óleo sobre madeira

terça-feira, 16 de outubro de 2018


DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO 
16|outubro



A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou a campanha “Um mundo fome zero para 2030 é possível” nas comemorações do Dia Mundial da Alimentação que se realizam hoje. A FAO pretende sensibilizar a sociedade global para a importância de ações de combate à fome e ao desperdício de comida, mostrando a necessidade de desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável.

A insegurança alimentar no mundo tem vindo a reduzir e a meta de “fome zero” até 2030 não é inviável. Os números da FAO indicam que existem 820 milhões de pessoas em situação de desnutrição crónica, enquanto 672 milhões de pessoas sofrem de obesidade e 1,3 bilhão de indivíduos estão acima do peso. Uma melhor distribuição dos alimentos poderia eliminar ao mesmo tempo a fome e a obesidade.

O mundo precisa de fome zero, mas também de respeito pelo meio ambiente. Não basta apenas acabar com a fome humana, é preciso cuidar da ecologia e da biodiversidade. 

A propósito desta efeméride, apresentamos dois vídeos relativos à dieta mediterrânica.




terça-feira, 9 de outubro de 2018

Um poema...


Imaginação


A imaginação é magia e é arte
que nos faz inventar, sonhar e viajar.
Com imaginação podemos ir a Marte
ou ao centro da Terra, ou ao fundo do mar.

Com imaginação nunca estamos sozinhos.
A imaginação é um voo, um lugar
onde temos amigos, onde há outros caminhos
nos quais, sem te mexeres, podes ir passear.

Inventa uma cantiga, um poema, um desenho
um arco-íris, um rio por entre malmequeres;
esse lugar é teu, sem limite ou tamanho.
A esse teu lugar, só vai quem tu quiseres.

Rosa Lobato de Faria



O Leituras sugere...





...para outubro 


Não Gosto de Salada!
Tony Ross


Certo dia, uma princesinha traquina foi presenteada pelo cozinheiro do palácio com uma salada do chefe para o almoço, mas ela não gostava de salada - especialmente de tomate.  Então, engendrou um plano para levar avante a sua vontade: não comer a salada. Mas quando lhe deram sementes para ela própria plantar e viu os primeiros rebentos do seu tomateiro a despontar, mudou de ideias!

Livro engraçado, estimula as crianças a experimentar comida que dizem não gostar. Útil para incentivar a alimentação saudável.

Mais uma história da série A Princesinha que, fazendo rir, se revela muito educativa.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Escritor do mês | outubro


GERMANO ALMEIDA
(1945/ )


“Eu expresso a cultura cabo-verdiana usando a língua portuguesa”



Germano Almeida nasceu na ilha da Boa Vista em 1945. Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Vive em São Vicente onde, desde 1979, exerce a profissão de advogado. 

Autor de uma vasta obra editada em Portugal, toda ela escrita em português, publica as primeiras estórias na revista Ponto & Vírgula, assinadas com o pseudónimo de Romualdo Cruz. Estas estórias foram publicadas em 1994 com o título A Ilha Fantástica, que, juntamente com A Família Trago, 1998, recriam os anos de infância e o ambiente social e familiar na ilha da Boa Vista. Mas o primeiro romance do autor foi O Testamento do Sr. Napomuceno da Silva Araújo, em 1989, que marca a rutura com os tradicionais temas cabo-verdianos. O Meu Poeta, de 1990, Estórias de Dentro de Casa, de 1996, A Morte do Meu Poeta, de 1998, As Memórias de Um Espírito, de 2001 e O Mar na Lajinha, de 2004, formam o que se pode considerar o ciclo mindelense da obra do autor. Mais recentes são os livros A Morte do Ouvidor, de 2010, e Do Monte Cara Vê-se o Mundo, de 2014, Regresso ao Paraíso, 2015 e O Fiel Defunto, 2018.

Tem obras publicadas no Brasil, França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Holanda, Noruega e Dinamarca, Cuba, Estados Unidos, Bulgária, Suíça.

Em 2018 vence o Prémio Camões. O júri desta edição destacou a ironia na obra de Germano Almeida, uma obra, lê-se em comunicado, “onde se equilibram a memória, o testemunho e a imaginação, a inventividade narrativa alia-se ao virtuosismo da ironia no exercício de liberdade, de ética e de crítica. Conjugando a experiência insular e da diáspora cabo-verdiana, a obra de Germano Almeida, atinge uma universalidade exemplar no que respeita à plasticidade da língua portuguesa”.



Bibliografia

1989, O Testamento do Sr. Napumoceno
1990, O Meu Poeta
1992, O Dia das Calças Roladas
1994, A Ilha Fantástica
1995, Os Dois Irmãos
1998, A Família Trago
1998, A Morte do Meu Poeta
1999, Dona Pura e os Camaradas de Abril
1999, Estóreas Contadas
2000, Estóreas de dentro de Casa
2001, Memórias de um Espírito
2004, Cabo Verde. Viagem pela História das Ilhas
2004, O Mar na Lajinha
2006, Eva
2010, A Morte do Ouvidor 
2014, Do Monte Cara Vê-se o Mundo 
2015, Regresso ao Paraíso 
2018, O Fiel Defunto 

Uma nova luz sobre a vida e pessoa do ilustre extinto, foi como o Sr. Américo Fonseca, já a caminho de Lombo de Tanque, definiu a abertura do testamento do Sr. Napumoceno. E o Sr. Armando Lima, com o seu rigor de contabilista aposentado, precisou que a luz parecia total. E andando ao lado do Sr. Fonseca ia filosofando que nenhum homem poderá alguma vez pretender conhecer outro em toda a extensão e profundidade do seu mistério. Porque quem na verdade alguma vez sonhou que Napumoceno da Silva Araújo poderia ser capaz de aproveitar das idas da sua mulher de limpeza ao escritório e entrar de amores com ela pelos cantos da divisão e por cima da secretária, ao ponto de chegar ao preciosismo de lhe fazer um filho, melhor dizendo uma filha, em cima do tampo de vidro! Dando uma pequena gargalhada, o Sr. Fonseca concordou com o amigo e voltou a rir-se do facto de mesmo a eles, íntimos do falecido, jamais lhes ter passado pela cabeça ele ter tido uma amante quanto mais um fruto. Claro que agora vai aparecer muita gente a apontar semelhanças, a dizer que está na cara, são os mesmos olhos aguados, etc., mas a verdade é que durante 25 anos, se alguém desconfiou não se atreveu a dizer nem à boca pequena que ele tinha um filho, melhor, uma filha. 

in O Testamento do Sr. Napomuceno da Silva Araújo, cap. II



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Coimbra: Visita ao património cultural da cidade dos estudantes

No dia 15 de setembro, realizou-se mais uma visita guiada organizada pela Biblioteca, este ano, ao património cultural de Coimbra.
Feita a entrada na cidade pela Rua da Sofia onde se encontram vários colégios e conventos quinhentistas, rumou-se à Alta da Coimbra para dar início à visita da Universidade.




Os participantes puderam apreciar a beleza artística e monumental do Pátio das Escolas, da Biblioteca Joanina e do antigo Paço Real onde se destacam a Sala de Armas, a Sala dos Capelos e a Sala do Exame Prévio. 


Depois, da varanda deste edifício, foi tempo de apreciar a bela vista panorâmica de Coimbra.


Deixando a Universidade em direção à baixa da cidade, teve início o passeio pelo centro histórico, com passagem pela Sé Velha, escadas do Quebra-Costas e Porta de Almedina.


Após uma pausa retemperadora para almoço, a tarde iniciou-se com a visita do Mosteiro de Santa Clara a Velha, fundado no século XIII, pelas freiras clarissas e cuja igreja foi consagrada, em 1330, pela Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra. 


As inundações frequentes deste mosteiro, provocadas pelo rio Mondego, justificaram a transferência das clarissas para o Mosteiro de Santa Clara a Nova, erguido no século XVII. Foi este o último monumento visitado nesta jornada a Coimbra, miradouro privilegiado da cidade.


O Mosteiro impõe-se na paisagem da margem ocidental da cidade, onde se cultua, de forma muito intensa, a Rainha Santa Isabel. Na igreja, guarda-se, no retábulo da capela-mor, a urna de prata e cristal, do séc. XVII, onde é venerado o corpo daquela rainha de Portugal.







A terminar, a referência, sempre pertinente, à disponibilidade e ao profissionalismo do nosso guia, Daniel Afonso.