terça-feira, 8 de agosto de 2017

Escritor do mês | agosto

DULCE MARIA CARDOSO

(1964 -)


Dulce Maria Cardoso nasceu em Trás-os-Montes, em 1964, na mesma cama onde haviam nascido a mãe e a avó. Tem pena de não se lembrar da viagem no Vera Cruz para Angola. Da infância guarda a sombra generosa de uma mangueira que existia no quintal, o mar e o espaço que lhe moldou a alma. Regressou a Portugal na ponte aérea de 1975. 

Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, escreveu argumentos para cinema, gastou tempo em inutilidades. Também escreveu contos. Tem fé, uma família, um punhado de amigos, o Blui e o Clude. Continua a escrever e a prezar inutilidades. Vive em Lisboa.
Publicou em 2001 o seu romance de estreia, Campo de Sangue, Grande Prémio Acontece, escrito na sequência de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura. Desde então publicou os romances Os Meus Sentimentos (2005), prémio da União Europeia para a Literatura, O Chão dos Pardais (2009), prémio Pen Club, e O Retorno (2011). É autora de duas antologias de contos: Até Nós (2008) e Tudo São Histórias de Amor (2014).
Os seus primeiros dois livros infantis, na coleção A Bíblia de Lôá, foram publicados em 2014. Em 2012, foi condecorada com as insígnias de Cavaleira da Ordem das Artes e das Letras da França.
A sua obra está publicada em quinze países e é estudada em diversas universidades. Alguns dos seus contos e romances foram adaptados ou encontram- -se em fase de adaptação para cinema e teatro.

Bibliografia
·        Campo de Sangue; romance; Ed. Asa 2002
·        Os meus Sentimentos; romance; Ed. Asa 2005
·        Até Nós; contos; Ed. Asa 2008
·        O Chão dos Pardais; romance; Ed. Asa 2009
·        O Retorno; romance; Ed. Tinta da China 2011
·        A Bíblia de Lôá (infantojuvenil), Ed. Tinta da China, 2014 - Divide-se em 2 volumes: Lôá e a véspera do primeiro dia e Lôá perdida no paraíso
·        Tudo são histórias de amor (contos), Ed. Tinta da China, 2014

     Sundu ia maié, sundu ia maié, puta que a pariu. Vou dar pontapés em todas as portas até chegar ao pátio do recreio, a puta da professora mandou-me para a rua com uma falta a vermelho mas eu vingo-me, quero lá saber que as contínuas refilem, ó menino isto aqui não é a selva, não é como lá donde vens, aqui há regras, sundu ia maié, estamos a avisar-te menino, abro o peito e dou um pontapé noutra porta, conhecem-me de algum lado, olho as velhas bem de frente para lhes mostrar que não tenho medo, abro as narinas como o Pacaça diz que todos os animais fazem antes de atacar, as velhas recuam com as batas cinzentas e as varizes enfiadas nas meias elásticas, lá podias andar montado nos leões mas aqui tens de ter modos, as velhas refilam mas nem tentam impedir-me, têm medo de mim, passo pela cantina e dou um murro no carro dos tabuleiros, só me falta bater com a mão no peito para verem que acompanhava mais com os macacos do que com os leões, as velhas até saltam com o estrondo que o carro dos tabuleiros fez, se querem dizer mal dos retornados vou dar-lhes razões.
    
     A puta da professora, um dos retornados que responda, como se não tivéssemos nome, como se já não nos bastasse ter-nos arrumado numa fila só para retornados. A puta a justificar-se, os retornados estão mais atrasados, sim, sim, devemos estar, devemos ter ficado estúpidos como os pretos, e os de cá devem ter aprendido muito depois da merda da revolução, se for como em tudo o resto devem ter tido umas lindas aulas.

Dulce Maria Cardoso, O Retorno, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, pp. 139-140.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Um poema...

"O castelo de areia"

Fiz um castelo de areia
Mesmo à beirinha do mar
À espera que uma sereia
Ali quisesse morar

Ó mar,
Ó mar...
Mas foi só uma gaivota
Que ali me foi visitar

Ó mar,
Ó mar...
Mas foi uma verde onda
Que ali me foi visitar.

E levou o meu castelo,
O meu castelo de areia
Para no mar morar nele
A minha linda sereia.

Luísa Ducla Soares in Poetas de hoje e de ontem


O Leituras sugere...





...para agosto


O Universo nos Teus Olhos

 Jennifer Niven



Libby, outrora a rapariga mais gorda da América, conseguiu finalmente ultrapassar o desgosto causado pela morte da mãe e está pronta para voltar a viver. 

Jack é o típico rapaz popular do liceu, no entanto tem prosopagnosia e não consegue reconhecer caras. 

Quando o destino os une a solidão que cada um sente dá lugar a sentimentos muito diferentes… Uma história de superação e de um amor verdadeiro e invulgar que nos devolve a esperança no mundo, em nós e no outro.

Da autora de Fala-me de um dia perfeito, este romance direcionado aos leitores jovens é a nossa sugestão de leitura para as férias.