terça-feira, 21 de março de 2017

Dia Mundial da Poesia | 21 de março

Primavera
As heras de outras eras água pedra
E passa devagar memória antiga
Com brisa madressilva e primavera
E o desejo da jovem noite nua
Música passando pelas veias
E a sombra das folhagens nas paredes
Descalço o passo sobre os musgos verdes
E a noite transparente e distraída
Com seu sabor de rosa densa e breve
Onde me lembro amor de ter morrido
- Sangue feroz do tempo possuído.


Andresen, Sophia de Mello Breyner. 1996. Obra poética. Lisboa: Caminho


OLHOS POSTOS NA TERRA, TU VIRÁS

Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.


EUGÉNIO DE ANDRADE, As Mãos e os Frutos, 1948


ANUNCIAÇÃO

Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga, Poesia Completa de Miguel Torga - Volume I




terça-feira, 14 de março de 2017

Escritor do mês | março

BOB DYLAN
(1941 -)


Prémio Nobel da Literatura 2016


(…) o Nobel foi atribuído à poesia de Bob Dylan, não à sua música; e a poesia de Dylan, certamente indissociável das canções que criou, é, como poesia, autónoma em relação a ela. Pois bem, por uma vez, a Academia surpreendeu pela positiva (…). E lançou-nos um desafio: tratemos de ler ou reler a poesia de Bob Dylan enquanto poesia e talvez tenhamos algumas surpresas. E sobretudo não fiquemos chocados, pelo facto de essa poesia ser difundida em concertos (como foi), pela rádio, pela televisão e pela internet.
Carlos Reis, Facebook2016-10-13

Nascido em Duluth, no Minnesota, em 1941, no seio de uma família de proveniência russa e judaica, Bob Dylanpseudónimo de Robert Allen Zimmerman, começou a escrever poemas com dez anos de idade. Aprendeu a tocar piano e guitarra sozinho. Em 1959, foi estudar para a Universidade do Minnesota (EUA). No ano seguinte, decidiu deixar a faculdade e partir para Nova Iorque, cada vez mais interessado nas origens do rock and roll e em intérpretes e criadores como Woody Guthrie, sua grande referência musical. “Já tinha passado por muitas coisas e visto muitas outras. Mas agora o destino ia revelar-se. Senti que [Guthrie] estava a olhar diretamente para mim e para mais ninguém”, escreve Dylan no 1.º volume das suas Crónicas.

Em 2004, foi eleito pela revista Rolling Stone o 7º maior cantor de todos os tempos e, pela mesma revista, o 2º melhor artista da música de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles, e uma de suas principais canções, "Like a Rolling Stone", foi escolhida como a melhor de todos os tempos. Influenciou diretamente grandes nomes do rock americano e britânico dos anos de 1960 e 1970. Em 2012, Em 2004, foi eleito pela renomada revista Rolling Stone o 7º maior cantor de todos os tempos e, pela mesma revista, o 2º melhor artista da música de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles, e uma de suas principais canções, "Like a Rolling Stone", foi escolhida como a melhor de todos os tempos.[1] Influenciou diretamente grandes nomes do rock americano e britânico dos anos de 1960 e 1970. Em 2012, Dylan foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2016 por "ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana". E, assim, tornou-se o primeiro e único artista na história a ganhar, além do Prémio Nobel, o Oscar, o Grammy e o Globo de Ouro.
(Referências: Expresso, 2016-10-13;  Wikipédia, a enciclopédia livre)

BIBLIOGRAFIA
“Crónicas”, Ulisseia, 2005
“Tarântula”, Quasi Edições, 2007
"Canções I e II", Relógio d'Água, 2006/2008

“Blowin’ In The Wind” (1963)

How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, and how many times must the cannon balls fly
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.
Yes, and how many years can a mountain exist
Before it is washed to the sea?
Yes, and how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free?
Yes, and how many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.
Yes, and how many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, and how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, and how many deaths will it take ‘til he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.




sexta-feira, 10 de março de 2017

O Leituras sugere...







...para março 

              Poesia para todo o ano
 Seleção e prefácio de Luísa Ducla Soares


Luísa Ducla Soares selecionou os poemas que integram Poesia para todo o ano, uma antologia organizada de acordo com os temas abordados no 1.º Ciclo do Ensino Básico.

Esta coletânea é certamente uma bela iniciação à poesia, constituindo, também, um apoio para professores e encarregados de educação. Inclui poemas de todos os livros presentes nas Metas Curriculares de Português para este nível de ensino.

Através dos mais reconhecidos poetas do passado e contemporâneos, abrange temáticas abordadas nos quatro primeiros anos de escolaridade, procurando estimular o prazer de ler e o gosto pela poesia e pela língua portuguesa.
Esta antologia aborda assuntos como, por exemplo, a natureza, o corpo humano, a História de Portugal, as festividades, entre outros.  E inclui a indicação do nível de dificuldade de cada poema e respetiva recomendação do ano de escolaridade a que se destina.
Cada um dos doze capítulos é ilustrado por um artista diferente, facto que permite o acesso a uma grande variedade estética.

No mês em que se celebra mundialmente a poesia, uma boa sugestão para aprenderes, divertindo-te.

Visita a Biblioteca e leva este livro contigo.


Coisas que não há que há

Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia…

Manuel António Pina, in Poesia para todo o ano

Um poema....

Acordar na Rua do Mundo
madrugada, passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas, no meu quarto cai o pó.

um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas dum jornal já lido.
impera o declive
um carro foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.

sirenes e buzinas, ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu, estragou-se o alarme
da joalharia, os lençóis na corda
abanam os prédios, pombos debicam

o azul dos azulejos, assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo
não gravou
e duma varanda um pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário

Luiza Neto Jorge, in 'A Lume' 


terça-feira, 7 de março de 2017

Gil Vicente: do livro para o palco

Auto da Barca do Inferno


Numa iniciativa que visa a promoção do teatro, como arte do espetáculo, junto do público escolar de Lordelo, e o apoio ao programa curricular da disciplina de Língua Portuguesa/Português, a Biblioteca da Fundação A LORD promoveu a dramatização do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, um dos textos que os alunos do 9º ano estudam.

O Auditório da Fundação foi o local onde decorreu o espetáculo a cargo do TEATRO ARAMÁ.

A disputa figurada é entre o Bem e o Mal. O Diabo da barca dos danados e o Anjo da barca que conduz ao Paraíso ouvem as justificações do Judeu, da Brízida Vaz, do Onzeneiro, do Parvo, entre outras personagens, das ações praticadas em vida, decidindo sobre o seu destino, conforme o respetivo merecimento. A vaidade, a usura, a hipocrisia, a luxuria e outros são os “pecados” que as personagens vão desfilando.

O grupo do TEATRO ARAMÁ, dirigido por Tó Maia, apresentou um trabalho rigoroso e divertido, aliando a seriedade do tema aos diferentes tipos de cómico.

Ficha artística e técnica
Adaptação e Direção: Tó Maia. Cenografia: Hernâni Miranda Interpretação: Jaime Monsanto, Eva Fernandes, Miguel Rimbaud e Tó Maia - Operação Técnica: Pedro Esperança - Produção: Teatro Aramá


Programação mensal | março