A Biblioteca da Fundação A LORD tem como principal objectivo contribuir para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais da comunidade.
É um local de leitura, de consulta de documentos e de recolha de informação.
PARA TI que gostas de ler e fazes dos livros bons amigos e companheiros de viagem para outros mundos, a Biblioteca da Fundação A LORD abre-te a porta a um conjunto diversificado de títulos onde encontrarás, seguramente, aquele que vem mesmo ao encontro do teu gosto.
Para isso, dirige-te às nossas instalações provisórias, no edifício da Cooperativa/Fundação A Lord, e solicita um empréstimo domiciliário - o livro vai contigo, para tua casa, por um período de 15 dias.
PARA TIque gostas muito das novas tecnologias, que não dispensas algum tempo livre diante do computador mas que também aprecias ler, aqui vai uma sugestão para leitura integral de livros para quando não tiveres à mão, na tua estante, um livro com uma boa história.
Para tal, clica aquie explora os títulos disponíveis.
E, agora, a nossa sugestão para o mês de abril:
«QUEM QUER A MADRUGADA»
Ilídio Sardoeira
Ilustrações de Manuel De Francesco
“Hoje trago comigo o Sol no bolso.”
Começa assim o primeiro conto desta coletânea. E, de facto, ler os contos aqui reunidos, faz-nos sentir o sol na alma e querer a madrugada porque “(...)o sol não sabe nascer sem que tu chegues. Todas as manhãs chama por mim e me pergunta:-Onde deixaste ontem a madrugada?(...)Seja onde for que ela more trá-la contigo. É urgente. Tenho de saltar pelo seu arco de lume para poder nascer. É o meu brinquedo e o meu ventre.”
Estelivro, que inaugura uma coleção “Memória(s) de Elefante”, da editora Tinta por uma Linha,destinada a editar textos de autores portugueses que escreveram para a infância e juventude, desaparecidos e/ou pouco conhecidos, apresenta oito dos 30 contos que o amarantino Ilídio Sardoeira publicou no jornal O Comércio do Porto entre 1969 e 1976.
"Nunca encontrareis a poesia se não a tiverdes dentro de vós."
Alexander Puschkine
Um Poema
Não tenhas medo, ouve:
É um poema.
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz
E pode acontecer que te dê paz…
Miguel Torga
Original é o poeta
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
Ary dos Santos
Quando julgas que me amas
Se perguntasse em redor O que foi feito de nós Que silêncio meu amor À volta da minha voz
Não é a mim que tu tocas
Quando julgas que me amas Que coisas dizem as bocas Ao fingirmos que me chamas?
Uma só cama no quarto
E dois sonhos separados Meu amor no teu retrato Vejo os meus olhos parados
Não penses que perdoei Só por te abraçar assim Nem vás pensar que chorei: Foi a vidraça por mim
Vesti-me da sua vida
Por dentro da minha pele: Com a ternura assim escondida Não vão dizer que sou dele
E guardo os olhos no lenço Ao passar na sua rua Quem sabe que lhe pertenço? Quem descobre que ando nua?
Ele chega quando eu parto Volto sozinha depois. Só dentro do nosso quarto De repente somos dois
António Lobo Antunes
Reflexão Total
Recolhi as tuas lágrimas na palma da minha mão, e mal que se evaporaram todas as aves cantaram e em bandos esvoaçaram em tomo da minha mão. Em jogos de luz e cor tuas lágrimas deixaram os cristais do teu amor, faces talhadas em dor na palma da minha mão.
António Gedeão
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)
Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill
Cântico Negro "Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali...
A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tectos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou - Sei que não vou por aí!
José Régio
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
SER POETA
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
Poesias de Florbela Espanca
1. Amiga 2. De joelhos 3. Sem remédio 4. Fanatismo 5. O meu orgulho 6. Saudades 7. Ódio? 8. Versos de orgulho 9. Rústica 10.A um moribundo
"Canção"
Eugénio Andrade
Se tanto me dói
Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de Amor se eternizassem
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sísifo
Miguel Torga
E tudo era possível
Ruy Belo
As palavras interditas
Eugénio de Andrade
Poema à boca fechada Não direi: Que o silêncio me sufoca e amordaça. Calado estou, calado ficarei, Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam, Se represam, cisterna de águas mortas, Ácidas mágoas em limos transformadas, Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi: Que nem sequer o esforço de as dizer merecem, Palavras que não digam quanto sei Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas, Nem só animais bóiam, mortos, medos, Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que quem se cala quando me calei Não poderá morrer sem dizer tudo.José Saramago
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)
É um homem sábio o que conhece a seu próprio filho.
(William Shakespeare)
Memória
é de ti que eu falo
hoje quando todos os pássaros emigram do outono para os beirais destruídos quando os olhos cegos de conhecerem as margens se fecham devagar é de ti que eu falo.
lembras-te?
era janeiro e eu vinha como quem desce. a casa tinha janelas azuis e à volta um tempo de febre e canções longínquas.
estávamos sós.
lembras-te?
então o pai atravessa o cais. aí paravam os estios da ilha os ventos do atlântico queimavam os lábios e ele dizia:
cresce filho corre filho
para onde irei para onde?
e ele dizia:
perdidos foram os teus lugares, os caminhos íngremes e os contos de terror, as pedras húmidas onde te sentaste a falar para o mar.
lembras-te? José Agostinho Baptista Em Nome do Pai, Pequena Antologia do Pai na Poesia Portuguesa, p. 85.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Vamos ouvir uma história...pela voz de Teresa Guimarães
No dia 8 de março, a magia dos pozinhos mágicos espalhou-se pelo auditório da Fundação onde a escritora de literatura infanto-juvenil Teresa Guimarães apresentou um dos seus livros A Floresta de perlimpimpim.
Meninos das escolas do 1º ciclo do Agrupamento Vertical de Lordelo ouviram e participaram nas aventuras dos animais da floresta para fugirem à perseguição dos caçadores.
Lida expressivamente pela autora e complementada pelo visionamento das ilustrações de Anabela Dias, a história encantou as crianças presentes.
No final da sessão, a Biblioteca ofereceu, a cada escola presente, um exemplar de A Floresta de perlimpimpim autografado pela autora.
Nos passados dias 2 e 3 de março, Gil Vicente subiu ao palco do nosso auditório num trabalho do grupo de Teatro Pé de Vento.
Com encenação deJoão Luiz e interpretação dePatrícia Queirós e Rui Spranger, Ensalada Vicentinaé uma incursão no universo dramático e poético de Gil Vicente, uma montagem de textos do Monólogo do Vaqueiro, O Velho da Horta e Pranto de Maria Parda, que leva à cena figuras típicas e tradicionais criadas por Gil Vicente - o pastor, o enamorado serôdio, a alcoviteira.
Em duas sessões com sala cheia, o público escolar e o público em geral puderam assistir a um bom momento de teatro de um autor original e ímpar, num espetáculo com a qualidade a que a companhia Pé de Vento sempre nos habituou.
No mês especialmente dedicado à leitura junto do público escolar pelo Plano Nacional de Leitura, a Biblioteca, de acordo com o seu objetivo maior de promoção do livro e da leitura, organiza um encontro da autora de literatura infanto-juvenil Teresa Guimarães com crianças das escolas do 1º ciclo da cidade de Lordelo.
8 de março I 14h30m I Auditório da Fundação A LORD
TERESA GUIMARÃES
Nasceu no Porto a 28 de Maio de 1967. Fez o percurso escolar no Porto passando pelo Liceu Rodrigues de Freitas, entrando para a Faculdade em 1986 - ISAI / ISAG onde frequentou o curso de Turismo. Atualmente frequenta a licenciatura em Educação na Universidade Aberta. Escreveu «A floresta perlimpimpim» (2008) e «A menina de papel» (2010), ambos os livros editados pela Trinta Por Uma Linha e recomendados pelo Plano Nacional de Leitura.
Como é já uma feliz tradição, a Biblioteca dinamizou, ao longo do mês de Fevereiro, mais um Atelier de Olaria, orientado pela nossa colaboradora habitual, a ceramista Maria Fernanda Braga.
E como a arte tradicional popular nos conta sempre a história dos costumes do nosso povo, a proposta que a Maria Fernanda nos trouxe, este ano, esvoaçou das Cantarinhas das Prendas ou dos Namorados cuja história, riquíssima na sua singeleza e tradição dos costumes das gentes minhotas, merece ser aqui contada:
“A Cantarinha das Prendas ou dos Namorados, a mais antiga peça que é típica de Guimarães, é feita em barro vermelho, polvilhada de mica branca, com motivos arcaicos saídos das olarias de Guimarães e é constituída por duas peças distintas: a cantarinha maior e a cantarinha menor. Esta serve de testo à maior e cada uma delas tem um simbolismo muito interessante. A de formato maior traduz a abundância permanente que se deseja ao jovem casal que nela deposita ilusões e esperanças sem conta. A de formato menor tem o simbolismo da realidade da vida, já com desilusões e queixumes à mistura, na incerteza pelo pão de amanhã e pelas contingências da existência, naturalmente atribulada. Aquela que há-de encher a maior, despida de enfeites, é encimada pelo emblema da família, pelo amor de mãe que tudo sacrifica ao bem estar da sua prole, enquanto o homem, ausente, labuta no amanho da terra que lhes dará o sustento. Uma significa a esperança e o desejo em tudo o que é bom e que se pretende ver no enlace matrimonial, e a outra significa o realismo, com o papel do homem e da mulher no lar, cada um com a sua função conjugal, face à harmonia que se pretende para que o matrimónio seja um bem último para a família. Esta cantarinha era oferecida pelo rapaz à sua namorada quando formalizava o "pedido" de casamento. Se a cantarinha fosse aceite considerava-se feito o pedido, ficando assegurado o comprometimento que somente requeria o aval dos pais e o anúncio do noivado. Uma vez dado o consentimento dos pais e tendo estes chegado a um acordo quanto ao "dote", a cantarinha servia então para guardar as prendas que o noivo e pais ofereciam à noiva, que podiam ser em ouro ou prata (cordões, corações, arrecadas, relicários, cruzes, borboletas, estrelas, etc.), consoante as posses dos ofertantes. Este uso há muito, já, que foi posto de parte, restando hoje somente a tradição.”
Cantarinha das prendas
Os meninos dos Jardins de Infância de Igreja - S. Mamede de Recezinhos, de Monte - Mouriz, do Centro Escolar de Mouriz e do Centro Escolar da Estação - Valongo puderam moldar e ter nas suas pequenas mãos os pássaros que encimam as cantarinhas mas que traduzem a ânsia de voar para um infinito azul de lembranças e de sonhos.